quinta-feira, 8 de maio de 2008

Saiu no Jornal MetroNews de hoje

Investir em transporte coletivo é pensar no futuro

Na cidade de São Paulo, vivem 10,8 milhões de pessoas. E a Região Metropolitana soma 19,2 milhões de habitantes. Diariamente, mais de um milhão de pessoas se deslocam dessa região metropolitana para a Capital, porque que têm suas vidas entrelaçadas com São Paulo. A fronteira geográfica não é fronteira para o trabalho, a saúde ou a vida cultural.
Neste ano, a Capital atingiu o número de seis milhões de automóveis, tornando os deslocamentos cada vez mais difíceis e demorados, com recordes de congestionamentos batidos dia após dia.
As atividades realizadas aqui têm grande importância para os que se movem na metrópole e também para os 165 milhões de brasileiros que moram fora da Grande São Paulo. O município de São Paulo é o maior centro econômico, financeiro e cultural do país, e é o terceiro maior produtor de riquezas. Portanto, nossa cidade é o coração do sistema e é vital para o Brasil. Se São Paulo parar, o funcionamento do país estará ameaçado.
Dirigir bem a cidade e representar os legítimos interesses de sua população é uma responsabilidade política imensa, da qual depende a qualidade de vida dos brasileiros desta e de futuras gerações.
Hoje, São Paulo e a Grande São Paulo têm 39 milhões de viagens diárias, sendo que só um terço delas são feitas por transporte coletivo. A primazia é para o transporte individual, que leva mais um terço, estimulado pelas indústrias de carro e petróleo – que faz festa a cada novo recorde de produções, sem se preocupar por estar matando o funcionamento da cidade.
Pesquisas apontam que as viagens na metrópole de São Paulo são indispensáveis. 41% delas são para trabalho, outras 34% são feitas para estudar e 4% são realizadas por motivo de saúde. Portanto, é impossível não enfrentar essa maratona diária, em que 20% de paulistanos perdem três horas nesses deslocamentos e cerca de 10% chegam a gastar até quatro horas.
Faltou visão política e estratégica para priorizar o transporte coletivo, principalmente o metrô. Desde a década de 70 até hoje só foram construídos 61 quilômetros de metrô. Há muito tempo, a média de construção é de apenas um quilômetro de metrô por ano. A cidade do México, onde o metrô começou a ser construído na mesma época que o de São Paulo, tem 250 Km de metrô.
Para tirar o atraso, usando como base a construção de um quilômetro de metrô por ano, precisaríamos de cerca de 200 anos para São Paulo alcançar o patamar ideal. Isso, sem comparar nossa cidade com Londres, que tem 408 quilômetros, ou Nova Iorque, com 368 quilômetros. Ambas são cidades menores do que São Paulo.
Para enfrentar o problema do transporte na cidade, é preciso uma visão de estadista, que vê o futuro e não apenas o dia-a-dia, pois melhorar a locomoção dos cidadãos diz respeito ao investimento em transporte público coletivo, com destaque para o metrô.
É preciso também ampliar e renovar a frota de ônibus e baratear as tarifas para estimular a população a aderir ao transporte coletivo. Quanto menos gente anda de ônibus, mais caro ele fica e, por isso, menos gente anda de ônibus. É um círculo perverso.
Outra medida importante seria aumentar as faixas exclusivas para os ônibus, diminuindo assim o tempo da viajem; aumentar os terminais de integração entre ônibus, metrô e ferrovia; e aumentar o número de ciclovias para que milhões de pessoas utilizem bicicletas como meio de transporte, entre várias outras medidas.
Para transformar essas idéias em prática, é preciso envolver os municípios que formam a Região Metropolitana de São Paulo, o Estado e a União, além da sociedade civil organizada, de modo a melhorar significativamente o deslocamento dos cidadãos. Prestar um bom serviço à população, garantindo o direito de locomoção em sua cidade é uma das principais formas de combater a exclusão social.

Jamil Murad é médico.

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